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Fóruns Permanentes: Vozes Vegetais

Vozes vegetais: Diversidade, Contradomesticação, Feminismos e Histórias da Floresta



A virada do milênio vem se acompanhando de reviravoltas a um só tempo ontológicas, epistemológicas e políticas. Modos próprios de ser exigem modos próprios de conhecer e agir. Animais, objetos tecnocientíficos e artísticos, espíritos e éteres, plantas. As plantas, mil maneiras de escutá-las desde sempre, mas agora sob constrangimentos de vida e morte inéditos em escala e velocidade. Um mundo que perde a paciência, diante da confusão do relógio com o tempo, do crescimento com o desenvolvimento. A grande domesticação modernizadora na berlinda. O atalho célere dos agrotóxicos e o caminho compassado da permacultura e da roça de coivara. Mas quem mesmo domestica quem?

Urge ouvir as vozes vegetais tão diversamente traduzidas. A esfinge de um planeta respondente põe o enigma do decifra-me ou te devoro: seguir dobrando uma natureza mais e mais múltipla e indeterminada (por isso mesmo tão perigosa quanto auspiciosa) ou desenvolver artes de dobrar-se com ela? Com quem e de que modo aprender a revisar os vínculos com as plantas? Haverá tempo no fim dos tempos?

Ao modo das plantas, há pressa em vegetar. O que temos nós a aprender com elas? Plantas são trilha e morada de outros seres. Humanos colhem e pássaros bagunçam os frutos. Abelhas fazem festa nas flores. Galhos se comunicam com o vento, raízes com as hífas, sementes pegam carona nos fluxos e asas. Vegetar é crescer em contiguidade com o mundo, co-habitar lugares e aderir espaços, engajar-se com aquilo que nos circunda. Criar raiz e lançar sementes. Desterritorializar-se. Propagar, cortar, distribuir, se partir em qualquer ponto e depois se reconectar. Polinizar, cruzar, se misturar, gerar o imprevisível. Brotar, crescer, florescer, frutificar e apodrecer. 

Em um cenário político onde o Governo aperta as mãos com o agronegócio, vegetar o pensamento, propor alianças rizomáticas com formas agro-florestais minoritarias, ouvir as vozes vegetais que tentam ser caladas pela engenharia genética e pelo monocultivo é uma aposta de resistência.

Organização: INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - IFCH-UNICAMP

Coordenação: Joana Cabral de Oliveira - Centro de Pesquisa em Etnologia Indígena - CPEI-UNICAMP; Marta Amoroso - Centro de Estudos Ameríndios - CEstA-USP.

Programação:

8h30 - Credenciamento

9h - Abertura

9h15 - Mesa 1: Agricultura Ameríndias e suas (Re)existências

"Agricultura Contra-Estado" - Joana Cabral de Oliveira (UNICAMP)

"O cuidar com parentes-planta: especulações sobre pupunheiras" - Fabiana Maizza (UFPE)

"Diálogo através do canto com itymbyry (plantas tradicionais)" - Izaque João (pesquisador Kaiowá - UFGD)

11h-11h20 - Coffee Break

11h20 - "Nas trilhas das árvores de cuias: o que podem os lugares de memória na Amazônia?"- Priscila Ambrósio Moreira (INPA)

              "O acúmulo da diferença: a construção da agrobiodiversidade no passado amazônico" - Laura Furquim (MAE - USP).

12h30 - Almoço

14h - Mesa 2 Territórios vegetais

"Cultivo no Quilombo Cafundo" - Regina Aparecida Pereira e Lucimara Rosa de Aguia (Lideranças do Quilombo Cafundó)

"Experiências e, Agrofloresta" - Dona Maria Rodrigues dos Santos (Agricultura de Assentamento do MST)

"Hori: a reexistência vegetal katxuyana" Luísa G.Girardi (USP)

"Itinerários vegetais. Na trilha das contradomesticações banawá (Arawá, Purus)" - Miguel Aparecio (UFOPA)

"Extrativismo comercial do óleo da copaíba entre quilombolas do Alto Trombetas, Oriximiná/PA" - Igor Scaramuzzi (UNICAMP).

16h30 - Encerramento

Valores da Agrobiodiversidade

Laure Emperaire (IRD)

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